Kiki e a Síndrome do Impostor: Quando voar nem sempre é fácil.
“Serviços de Entrega da Kiki” pode até parecer, à primeira vista, só mais uma história fofa sobre uma bruxinha que se muda para uma cidade nova e começa a trabalhar com entregas em sua vassoura. Mas, se a gente olha com atenção (ou melhor, com o coração), percebe que esse filme vai muito além da fantasia e da estética encantadora do Studio Ghibli. Ele fala sobre crescer. Sobre amadurecer. E, principalmente, sobre como, mesmo tendo dons e capacidades, às vezes a gente sente que não é bom o suficiente.
A famosa Síndrome do Impostor é aquele sentimento de inadequação, de pensar que você não merece o lugar que ocupa ou que, a qualquer momento, irão “descobrir” que você não é tão talentoso quanto aparenta. E Kiki sente isso na pele.
Quando o voo começa a falhar
Kiki parte para sua jornada de independência cheia de sonhos e expectativas. Ela acredita que vai encontrar seu lugar no mundo e usar sua habilidade de voar para fazer algo significativo. E, por um tempo, tudo flui: ela conhece pessoas novas, começa seu serviço de entregas, recebe elogios e até encontra apoio.
Mas então… algo trava.
Kiki começa a perder a confiança. A voar pior. Adoece. Fica exausta. Duvida de si mesma. E, quando percebe, não consegue mais fazer o que antes era tão natural: voar.
É exatamente aqui que o filme dialoga com o que tantos jovens adultos sentem ao entrar na vida real. Quando somos adolescentes, temos sonhos sobre como vai ser “quando crescermos”: a carreira perfeita, a liberdade, os amigos incríveis. Mas a realidade vem e junto dela chegam o cansaço, as comparações, a cobrança interna e externa. E de repente, aquilo que era para ser um dom vira um peso. Começamos a pensar que talvez nunca fomos tão bons assim. Que tudo foi sorte. Que logo vão perceber que não somos capazes.
E quando o dom some?
O mais bonito do filme é que ele não resolve isso de forma mágica. Kiki precisa de tempo. Precisa de descanso. Precisa se reconectar com o que faz seu dom ter sentido - e isso acontece quando ela entende que voar não é sobre entregar encomendas, mas sobre quem ela é e o que ama.
O processo dela é solitário em muitos momentos, o que também espelha muito da vida adulta: lidar com crises silenciosas, dúvidas que nem sempre conseguimos explicar para os outros. Mas Kiki também encontra apoio - pessoas que, mesmo sem entender totalmente o que ela está passando, estão dispostas a caminhar ao lado dela.
Porque sentimos que não merecemos estar aqui?
A Síndrome do Impostor afeta especialmente quem está começando sua jornada, seja na faculdade, no primeiro emprego ou, como a personagem, ao sair da casa dos pais para tentar a vida no mundo. A insegurança vem porque, de certa forma, tudo é novo. Não temos manual. E errar parece proibido. Mas Kiki mostra que errar faz parte. Que o talento pode enfraquecer quando nos sobrecarregamos, mas que ele não desaparece: apenas precisa de cuidado e reencontro.
Kiki somos nós
No fim das contas, Kiki é um espelho gentil e poético para todos que estão tentando “voar” e sentem que, às vezes, esquecem como se faz. O filme lembra que ninguém é impostor por ter dúvidas. Que desacelerar não é fracasso. Que nossos dons continuam dentro de nós, mesmo quando não nos sentimos tão fortes.
E que, talvez, crescer seja justamente isso: continuar tentando voar, mesmo nos dias em que o céu parece pesados demais.
Texto: Jiji
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